O cigarro. O amor

O cigarro entre meus dedos. Entre meus lábios. Seu. Ou que pelo menos um dia foi seu. Pensamentos amargurados. Meus. Lembranças de um amor. Nosso. Agora só meu. Um coração partido e outro completamente intacto. Um meu e um seu. Cigarro entre os meus dedos. Em cima da mesa. Cinzas, fumaça, ar. Eu aqui, você lá. A mesa que tanta história viu. Nossa. A blusa que cobre meu corpo. A blusa, sua. O meu corpo, seu. Ontem a blusa era você, agora não mais. Mas o corpo. Ainda seu.
O cigarro entre meus dedos, de novo. Meus dedos que um dia se entrelaçaram aos seus. Hoje se encaixam perfeitamente a este cigarro. Queimando, soprando, pensando. O meu amor. Seu. O seu amor. Não meu. Os melhores momentos. Nossos. Acabou. O cigarro. Acabou. Nós. Acabou eu e você juntos no mesmo sonho. Hoje sou eu em um pesadelo. E você, não sei mais nada sobre você.
Agora tem a janela pra se olhar, e uma ideia tentadora. Me jogar? Não, já estou morta, não irei dar essa chance a morte de novo. Ideia tentadora. Deixar o sol entrar e gritar para todo mundo ouvir. Você não é mais meu. Nem eu... sou mais a mesma. Abri a janela. O leve roçar da blusa nas minhas pernas exalam o seu cheiro. Pernas. Que um dia se entrelaçaram as suas.
Chega! O cigarro acabou. Nós também. As cinzas estão saindo pela janela. Minhas, suas, nossas lembranças também. De fato, acabou! O cigarro queimou, e acabou, mas ainda parece um cigarro. Comigo será assim também. Me queimei. Me deixei consumir. Agora, realmente, acabou. Ainda pareço um ser que amou e acreditou. E assim será. Um dia, depois outro. E quem sabe um "outro". Cigarro.
O cigarro nada tem  á ver com essa história, mas pelo visto o amor também não.